Os últimos anos têm testemunhado um movimento nas democracias ocidentais que vem chamando a atenção: a ascensão de outsiders* na política.
Cada vez mais cristalina, a intenção dos brasileiros pelo novo nas próximas eleições ganha força e referência estatística nas últimas pesquisas que chegaram a público. Na mais eloquente delas, realizada pelo Instituto IPSOS a pedido da UFPE, o resultado não deixa margem a dúvida: 82% dos entrevistados disseram rejeitar os velhos políticos e asseguraram que vão em busca de candidatos de fora do establishment**.
A maioria deseja os chamados outsiders. E as agremiações que ousarem ir contra essa onda, insistindo em fórmulas tradicionais, podem acabar morrendo na praia. Aos números: 57,05% anseiam por um candidato que se oponha ao atual sistema político e 25,17% afirmam que o melhor mesmo seria alguém de fora do meio, mas que saiba governar com políticos e partidos.
O outsider, por esse conceito, não estaria absolutamente deslocado da vida pública ou distante da gestão executiva. Ao contrário: precisaria ter algum traquejo na arte da negociação e dos combates na Câmara dos Vereadores para fazer vingar as mudanças que as cidades necessitam, sem ter no seu plantel de realizações atos ou fatos desabonadores.
Muito do discurso dos outsiders traz consigo o apelo por eficiência e melhora da qualidade da gestão, resultados que seriam mais plausíveis de serem alcançados se eleito alguém de “fora do sistema”. Diante da popularização dos outsiders e dessa retórica de superação da ineficiência administrativa do Estado, surge um questionamento importante: qual o impacto que a eleição de um outsider exerce sobre a qualidade da administração local e, consequentemente, sobre a qualidade dos serviços providos?
Tomando como base a eleição de 2008 e a respectiva administração municipal de 2009 a 2012, o estudo do Centro de Políticas Públicas do Insper e FEA-USP, realizado por Oliveira, Menezes Filho, Komatsu e Hott, expõe os primeiros resultados comparativos entre municípios que elegeram outsiders e políticos tradicionais como prefeitos através da metodologia de regressões descontínuas. Os resultados mostram que, no período analisado, os prefeitos outsiders obtiveram melhores desempenhos tanto na gestão municipal quanto na área da educação (os dois campos de investigação do referido estudo) do que os prefeitos com experiência política.
Em relação aos resultados encontrados para a qualidade da gestão municipal, tem-se que os prefeitos novatos além de não comprometerem a saúde financeira dos municípios e a participação popular na gestão por conta de sua inexperiência política, ainda conseguiram ser mais eficientes na provisão de instrumentos que auxiliam a gestão pública. No que tange à qualidade das redes de ensino sob tutela da administração municipal, os municípios que elegeram prefeitos outsiders apresentaram melhores resultados quando observado o IDEB dos anos finais, principalmente por conta de uma maior evolução da taxa de aprovação de seus alunos.
Chegou a hora de quebrarmos os grilhões do patrimonialismo, de nos libertarmos de um modo de ser que não nos pertence, daquele malfadado jeitinho associado à corrupção da lei que não traduz nossa verdadeira natureza? É hora de nos desvencilharmos da cultura de espoliação e do egoísmo? A cidade fartou-se desse modelo político? Vamos dar um sim na nossa cidade a um outsider?
* Outsider: indivíduo que não pertence a determinado grupo.
** Establishment: elite social, econômica e política.