As visitas íntimas e as familiares, marcadas, respectivamente, para sábado e domingo, estão mantidas no Complexo Prisional do Curado. A manutenção da entrada dos parentes este final de semana foi uma das condições dos reeducandos para encerrar a rebelião nas três unidades. Como cada detento pode receber três pessoas, o número de total de visitantes pode chegar a cerca de 21 mil pessoas no sábado e domingo. O motim que começou na última segunda-feira gerou tensão e violência no local por três dias seguidos. O saldo do terror que se instalou no complexo foi de três mortos, entre eles um sargento da Polícia Militar, e dois detentos, sendo um deles esquartejado. Além disso, os confrontos geraram mais de 70 feridos.
Já nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira, o setor de confecção e entrega das carteiras ficou lotado. Muitos parentes estavam à procura dos serviços na esperança de conseguir ver os familiares depois dos dias de tumulto. A aflição de todos era conferir com os próprios olhos como estavam os detentos, depois de uma semana de pouca informação sobre eles. “Já morreram dois dos presos, por isso a gente se preocupa. Temo pelo meu pai porque no caso dele foi preso por um crime sexual e a gente sabe que os outros marcam lá dentro”, disse a dona de casa, Maria de Souza, 50 anos.
A mulher reclamou que o serviço de entrega da carteirinha deveria ter acontecido na quarta-feira (21), mas foi suspenso sendo retomado nesta quinta. Já a confecção de novas autorizações de visitas que ocorre duas vezes por semana se concentrou apenas hoje, gerando uma grande fila. O idoso José Mauro, 63 anos, estava preocupado com a renovação de sua autorização para ver o filho. “Vim fazer um novo cadastro até para poder trazer comida e roupa para meu filho. Essa pressão toda deixa a gente muito aflito e até incerto se vai conseguir visitar ou não”, desabafou. Assistentes sociais do complexo tentavam dar ordem a fila e tranquilizar os familiares sobre a garantia da visita.
Apesar do juiz da 1ª Vara de Execuções Penais, Luiz Rocha, ter declarado na noite de quarta-feira que a situação do Complexo Prisional estava controlada, a vizinhança do conjunto de presídios relatou uma noite e madrugada conturbadas. “Até por volta das 2h da madrugada a gente ouviu muito tiro e bomba. Escutávamos também os presos gritando. Acho que esperaram o ultimo carro de reportagem sair daqui”, afirmou a dona de casa Sandra da Silva, 41 anos.
Por volta das 23h, outra dona de casa tomou um grande susto dentro da própria casa, no Alto da Bela Vista, que fica nas proximidades das unidades prisionais. Tamires Maria da Silva, 27, viu uma bala de groso calibre invadir seu quarto e passar a centímetros da sua cabeça. “Estava deitava, escutei um barulho e senti cair areia no me rosto. Foi um susto”, contou. De acordo com moradores do morro pelo menos outras duas casas amanheceram com marcas de tiros. Não houve registro de moradores feridos.
A movimentação nas ruas do Complexo Prisional do Curado nesta quinta-feira foi tranquila, assim como dentro das três unidades. Os reeducandos não voltaram a subir nos telhados ou fazer protestos. Aproveitaram o dia para jogar bola, fazer exercícios ou circular pelo pátio. O batalhão de Choque foi deslocado do espaço, que ainda permanece com reforço de segurança da Polícia Militar. O efetivo não foi divulgado.
Uma possível revista nas dependências do complexo não foi confirmada pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos. O pente fino poderia, neste momento, gerar um novo conflito nas unidades.
Da redação do blog do edy.com.br/JC