Há mais brasileiros que pertencem às camadas de menor renda – C, D e E – nas nove regiões metropolitanas do País do que às classes mais ricas, A e B. Essa é a estratificação do Brasil que se configura pelo novo critério de classificação social da população, o Critério Brasil, adotado pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep). A nova métrica, mais minuciosa do que a anterior que está em uso desde 2008, começa a valer a partir de janeiro de 2015 para todas as pesquisas de mercado feitas no País.
Pelo novo critério, 68% dos brasileiros são das classes C e D, ante 63% pela estratificação antiga. Em contrapartida, diminuiu de 37% para 32% a fatia dos mais ricos, que pertencem às classes A e B. “Isso não significa que o brasileiro tenha empobrecido, mas pelo novo critério ficou mais difícil estar nas camadas de maior renda. Mudamos a régua”, afirma o coordenado do Comitê do Critério Brasil, Luís Pilli.
O Critério Brasil de estratificação social da população foi formulado pelos professores brasileiros Wagner Kamakura, da Rice University, dos Estados Unidos, e José Afonso Mazzon, da FEA/USP. Essa nova métrica leva em conta não apenas a renda das famílias, mas principalmente a posse de bens, o tipo de moradia, o nível educacional e o acesso a serviços públicos, como saneamento e ruas pavimentadas. Ao todo são 35 variáveis avaliadas para se chegar ao estrato social.
Pilli explica que a intenção de criar um modelo que considera vários elementos, não apenas os valores monetários que as pessoas embolsam, é tentar tirar uma fotografia da renda permanente das pessoas. O conceito de renda permanente foi introduzido pelo economista americano Milton Friedman no qual ele considera a renda corrente, isto é o que entra no bolso das pessoas, ajustada às expectativas de quem a recebe.
De acordo com esse modelo de estratificação social, são atribuídos pesos e pontos à população, de acordo com o acesso a determinados bens e serviços, grau de instrução e uso de serviços públicos e tipo de moradia.
Sai TV
Pilli explica que várias mudanças foram feitas em relação ao Critério Brasil hoje vigente para obter um retrato mais próximo da realidade social. Itens como a posse de televisor, rádio e aspirador de pó foram eliminados, pois, de acordo com os formuladores do modelo, esses bens não refletem mais a posição social. Em compensação, passaram a ser considerados nessa avaliação a posse de microcomputador, lava-louça, lava roupa, motocicleta, secadora, forno de micro-ondas e acesso a serviços públicos, como saneamento e pavimentação. “Posse de microcomputador e acesso a serviços públicos têm pesos muito grandes”, diz Pilli.
Na lista de quesitos foram mantidos itens como a posse de geladeira, freezer, aparelho de DVD, automóvel, banheiro, ter empregado doméstico e o nível de escolaridade do chefe da família.
O coordenador do comitê do Critério Brasil ressalta que alguns itens que já faziam parte do critério anterior foram mantidos, mas tiveram o peso aumentado. Entre eles, estão o número de banheiros existentes na moradia, a quantidade de automóveis e o número de empregados domésticos. Por causa do maior número de itens considerados nessa nova métrica, o total de pontos que a classe A pode atingir, se preencher todos os quesitos, é 100. Pelo critério anterior, e em vigor atualmente, o total de pontos é 46.
Além de agregar novos itens para avaliar a posição socioeconômica da população, o novo critério usa uma base de dados mais ampla que permite ter um retrato mais fiel do País. “O banco de dados mudou: agora passamos a usar a POF (Pesquisa de Orçamento familiar) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de abrangência nacional. Antes, era usado o levantamento do Ibope que considerava dados das nove regiões metropolitanas.” Pilli observa que, apesar de 40% a 45% do consumo estar concentrado nas nove regiões metropolitanas, o dinamismo da economia brasileira está andando mais rápido fora desses polos.
Dois ‘Brasis’
Por causa do universo maior de dados do novo critério, que tem âmbito nacional, só é possível fazer comparações entre a estratificação social nova e a velha para as nove regiões metropolitanas. Segundo Pilli, o que chama atenção pela estratificação social no novo critério é que, na prática, existem dois “Brasis” em termos de perfil de classes sociais. Um deles é formado pelas Regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Nessas três regiões, a metade da população pertence à classe C, cerca de 30% são das classes A e B e uma pequena parcela é de classe D. “O Centro-Oeste, por causa da riqueza gerada pelo agronegócio e também em função da capital federal, já se aproxima da estratificação social das regiões mais ricas do País”, observa.
Já as Regiões Norte e Nordeste mostram a outra face do Brasil. De acordo com o novo critério, quase a metade da população dessas duas regiões são da classe de menor renda, a classe D. Na Região Norte, 42% da população pertence à classe D e no Nordeste essa fatia chega 47%. Já as classes mais ricas, A e B, representam 16% na Região Norte e 13% no Nordeste. “Esses resultados mostram que o Brasil ainda é muito desigual”, afirma Pilli, ressaltando, no entanto, que houve nos últimos anos ganhos de renda. Pelo novo critério, no País como um todo, 75% da população pertence às classes C (48%) e D/E (27%) e um pouco mais de um quarto integra as camadas mais ricas. Por essa métrica, a classe A representa 3% e a classe B responde por 23%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Fonte: Estadão Conteúdo)