Abalado pela morte trágica do seu principal líder, Eduardo Campos, o PSB foi provavelmente o partido que mais sentiu as turbulências da campanha eleitoral de 2014 e é também a legenda cujo futuro é mais difícil prever. Neste momento, como afirma seu presidente nacional Carlos Siqueira, o caminho do PSB é o de uma “oposição de esquerda”. “Os eleitores nos colocaram na oposição e assim vamos nos manter”, disse o presidente nacional do PSB.
“Neste primeiro momento, eles não têm muita alternativa a não ser se colocar dessa forma”, avalia o cientista político do Insper e colunista do jornal O Estadão de S.Paulo Carlos Melo. “A retórica tem que ser oposicionista, mas ao longo do ano que vem muita coisa pode acontecer”.
Para Melo, desde o momento em que Campos deixou a base de apoio ao governo de Dilma Rousseff (PT), em 2013, esse caminho já se configurava. Com a morte do candidato, o PSB teve de tomar decisões rápidas e acabou sendo levado a apoiar Aécio Neves (PSDB) depois da derrota de Marina Silva no primeiro turno. Isso empurrou o partido ainda mais para o campo oposto do PT, apesar de ter estado próximo do partido de Lula desde 1989.
O PSB passou de seis para três governadores, mas conseguiu crescer a bancada no Congresso Nacional: foi de 24 para 34 deputados federais e de quatro para sete senadores. “O partido cresceu, mas tem um problema sério de direção. Há uma parte ligada ao ex-presidente Roberto Amaral e lideranças no Norte e Nordeste que são petistas, e tem a parte paulista, ligada a Márcio França, e a ala pernambucana que são próximas ao PSDB”, lembra Melo.
Para ele, o partido pode até ficar próximo de outros na oposição a Dilma, como PPS e PSDB, mas corre risco de perder parlamentares que, por terem um alinhamento mais à esquerda, podem sentir que não estão mais ideologicamente representados e optar por trocar de legenda – o que é permitido pela legislação eleitoral. “Mesmo para especialistas, está muito difícil de prever o que vai acontecer com o PSB, só se tiver uma bola de cristal.”
O cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marco Antonio Carvalho Teixeira também disse considerar incerto o futuro da legenda, especialmente pelo drama da falta de liderança desde a morte de Campos. “Restou um partido sem liderança nacional. A grande aposta deles não existe mais.” Teixeira explica que o PSB há décadas servia como uma linha auxiliar do PT. Com o amadurecimento de Campos, alçou o voo solo mas não podia imaginar que perderia essa figura central, que era ainda jovem. “Para ser uma terceira via de fato, o partido precisa de liderança e é disso que o PSB carece. O grande risco nesse momento é voltar a ser apenas coadjuvante. Se for oposição ser linha auxiliar do PSDB, se voltar a ser governo, se firmar como linha auxiliar do PT.”
Teixeira avalia que o PSB ficou em uma situação peculiar, cresceu num projeto bastante calculado por Eduardo Campos, e agora, sem essa liderança central, é uma legenda média para grande, mas com configuração de partido pequeno. “O PSB é um grande partido, com vocação de nanico”, disse sobre a contradição.
O cientista político da FGV avalia que os quadros mais promissores do PSB hoje, como Márcio França em São Paulo, Paulo Câmara e Geraldo Júlio em Pernambuco e Ricardo Coutinho na Paraíba, são lideranças estaduais. Talvez o mais promissor para um quadro nacional seja o governador eleito do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg. “Rollemberg ganhou projeção, mas é preciso dar tempo. Ele é o que teria maior potencial pelo lugar estratégico em que se tornou governador e pelo momento do DF, que, pode-se dizer, vive uma fase de ‘terra arrasada’ em termos de liderança política”, disse Teixeira sobre os escândalos que envolveram os ex-governadores José Roberto Arruda e Joaquim Roriz.
Teixeira lembra também que o filho de Eduardo Campos, João, é um quadro promissor, mesmo que no médio ou longo prazo, já que ele tem 20 anos. “Se em 2016 ele se eleger o vereador mais votado em Recife, por exemplo, ele já ganha projeção”, afirmou. Para ele, investir na construção de uma liderança nacional é o caminho mais seguro para o PSB. “Trazer de fora pode ser um grande risco. Lembremos no que deu com o Garotinho.” Depois de aceitar a filiação do ex-governador do Rio Anthony Garotinho em 2000, o PSB lançou a candidatura presidencial dele em 2002. Garotinho acabou não chegando ao segundo turno da disputa, saiu para o PMDB e agora está no PR.
Fusão com o PPS
Processo que começa a ser discutido mais intensamente, em grande parte por esforço do presidente nacional do PPS, Roberto Freire, a fusão não é consenso dentro do PSB. Há integrantes do partido que a defendem, como forma de expandir a legenda e dar uma cara mais clara de oposição. Outros têm receio de que possa ser a desculpa que alguns integrantes, mais alinhados com o PT, procuram para desertar. “Não sei se o PPS seria uma opção muito agregadora para o PSB. Será que agrega atrair Freire, que nem se elegeu deputado em São Paulo?”, ponderou Carlos Melo do Insper.
Marco Antonio Carvalho Teixeira acredita que a fusão era mais provável com Eduardo Campos vivo que após a sua morte. “Hoje a fusão com o PPS seria um jogo de soma zero para o PSB, não vejo vantagem.” O PPS elegeu 10 deputados federais. Em 2010, havia elegido 12, mas a bancada já havia minguado a 7 até antes das eleições. O presidente nacional do partido, Roberto Freire, que vinha de seis mandatos consecutivos na Câmara, não conseguiu se reeleger. O PPS não tem representação no Senado, mas assumirá uma cadeira. José Antônio Medeiros é suplente de Pedro Taques (PDT), que foi eleito governador do Mato Grosso.
fonte: Estadão Conteudo