Aos nove anos de vida, nesta quinta-feira (24) um menino experimentou seu primeiro dia fora do quarto onde passou quase toda a vida encarcerado pela própria família, do lado de fora de uma humilde casa localizada na zona rural de Trindade, no Sertão de Pernambuco.
Sob medida protetiva, foi encaminhado à Casa de Acolhimento Rodolfo Aureliano (Craur), no Engenho do Meio, depois de três anos de ter sua história conhecida pelas autoridades. O caso foi notificado desde o ano de 2013, quando vizinhos denunciaram o cárcere privado do garoto ao conselho tutelar, que teria sido motivado por traços de retardo mental da criança.
“A mãe, o tio, os avós e os dois irmãos mais novos vivem juntos, mas ele foi separado. As outras crianças falam normalmente – ao contrário dele, que não diz uma palavra – e frequentam a escola”, explica o presidente do Conselho Tutelar da cidade, Gilvan Andrade.
Desde o primeiro contato, foram feitas visitas esporádicas a casa. “Chegávamos lá, o quarto estava todo melado de fezes do próprio menino, que também as comia. Vivia sujo, sozinho e nu, porque nunca foi acostumado a usar roupas, além de raramente ser banhado. Quando era colocada a comida em seu quarto, ele a jogava no chão para comer com as mãos” lembra.
De acordo com Andrade, até 2014, várias unidades de acolhimento próximas a Trindade foram procuradas para recebê-lo, sem sucesso, até que foi elaborado um pedido de intervenção do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). “Fomos a municípios como Petrolina, Garanhuns, Serra Talhada e Juazeiro do Norte (no Ceará), mas ninguém o aceitou, por causa de sua condição”.
A promotora de justiça envolvida na transferência do garoto ao Recife, Danielle Belgo de Freitas, preferiu não se pronunciar sobre o assunto para esclarecer os trâmites que só permitiram ao órgão pedir a remoção do garoto do núcleo familiar apenas em 2016, uma vez que tira férias do promotor Diógenes Moreira, titular de Trindade.
Da Redação do Blog do Edy Vieira (Blog do Nilson Macedo/Diário de PE).